13 de maio de 2016

Não, não é amor!

Ando há uns dias com este título na cabeça, viro, reviro, hesito, não me apetece falar. Mas a frase não me sai da cabeça e volta vezes e vezes sem conta, não, não é amor.
Quando eu era adolescente recordo que o meu conceito de amor era bem quadrado e o mais engraçado é que esse conceito da adolescência não era o mesmo que eu tinha em criança, estranho não é? Mas não tanto se nos debruçarmos melhor sobre o assunto com olhos de ver, com coração acima de tudo e sem medo.
O meu primeiro relacionamento marcante com alguém do sexo oposto deu-se precisamente nessa idade, na pré-adolescência se é que lhe posso chamar assim. Recordo com muita clareza as minhas barreiras naturais que outra pessoa poderá chamar de resistências mas que eu continuarei a chamar de barreiras naturais, porque hoje, mais consciente, percebo que a minha menina era muito mais sábia do que eu pensava. Recordo por exemplo a minha relutância/vergonha de usar uma aliança de compromisso, sentia-me estranha e até ridícula, cheguei mesmo a usá-la só quando estava com essa pessoa e todo o tempo que não estávamos juntos eu tirava-a. Conscientemente eu sabia que não tinha idade para aquilo e inconscientemente eu sabia que aquilo era uma coleira, uma forma de me ter marcada, a galinha com a anilha. Passado algum tempo porém ignorei toda esta intuição e o que a princípio me parecia estranho acabou por se entranhar de tal forma que mesmo depois deste relacionamento ter terminado e tudo o que com isso veio, eu insistia em usar a dita aliança de comprometida. A formatação foi pois bastante completa e bem feita, com a minha autorização e consentimento. Recordo também "pequenas" manipulações que me faziam sentir mal por ser livre, mal por querer estar com a minha família, mal por chegar atrasada, mal por falar com um amigo que é apenas e só isso. Um dos episódios que mais me marcou foi de um dia em que tive um "furo" na escola e toda a minha turma se juntou para conversar durante essa hora, quando a campainha tocou eu enchi-me de terror porque eu estava a conversar com um rapaz de quem esta pessoa tinha muitos ciúmes. A minha primeira reacção foi de cortar a conversa e ir para outro sítio. Tinha medo. Mas depois resisti e pensei que não havia mal nenhum, porque realmente não havia, e continuei a conversa que estava a ter. Infelizmente a reacção do meu namorado da altura foi chegar por trás do meu amigo e bater-lhe sem sequer lhe dizer uma palavra. Fui para casa nesse dia, não conseguia encarar ninguém da minha turma e apesar deste sinal claro e inequívoco eu decidi continuar.
Isto tudo para vos dizer que não, não é amor, tudo aquilo que nos ensinaram, tudo aquilo que nos foi passado. Não é amor a manipulação que nos impede de sermos nós mesmas. Não é amor dizerem-nos que nos escondem algo para sermos poupadas. Não é amor criticarem a roupa que usamos. Não é amor aquele aperto no braço e a pergunta que se lhe segue "onde vais assim vestida?". Não é amor o fazerem-nos sentir como propriedade. Não é amor fazerem-nos mal e depois dizerem que é amor. Não, não é amor! É tudo um jogo de poder! É tudo uma questão de insegurança mascarada de força. Minhas queridas, não é amor! E enquanto contarem essa preciosa mentira a vocês mesmas o ciclo vai seguir e perdurar e o que ao princípio era estranho depois entranha-se e vocês pensam que é assim mesmo, mas não é. A possessividade, a agressividade, seja ela verbal ou física, o rebaixar, tudo isso, não é amor e não é culpa vossa.
E hoje temo que exista uma violência bem mais perigosa que infelizmente não deixa nódoas negras, uma violência que não dá para apontar o sítio onde magoa mas que talvez deixe mais marcas que uma perna partida. As palavras tornaram-se o palco desta violência, são dissimuladas, disfarçadas de desculpas e doçuras, mas não se iludam, elas não deixam de ser o que são, violências contra quem vocês são, pequenas espadas apontadas à vossa força e à vossa resistência que aos poucos vocês vão deixando de lado e cedendo às investidas perniciosas de quem vos diz amar. E um dia acordam, vão ao espelho e a pessoa que lá está não são vocês mas uma sombra apenas, completamente sugada e quase sem vida e por trás surge alguém a dizer "Amo-te"... mas não é amor... é falta dele, por ti mesma(o).

2 comentários:

Unknown disse...


Parabéns

Texto bonito, inteligente, elucidatório.

Sónia Alexandra disse...

Grata Margarida!