31 de maio de 2016

Onde te dói?

Todos nós em algum momento das nossas vidas passamos por uma situação que nos causou dor, pode ter sido muita ou pouca mas foi dor. E o que nos ensinam ao crescermos é que a dor deve ser evitada, começa pela física quando somos pequenos e logo, logo, escala para a emocional. Ao mesmo tempo também nos é ensinado a não chorar, a não mostrar o que sentimos, a não dizer o que pensamos e a dada altura não vivemos mais, somos máquinas formatadas que perderam a sua ligação com o instinto mais básico e mais salutar que o ser humano poderia ter. As emoções são a forma do nosso corpo regular a nossa saúde física e psicológica. As emoções são mensagens que temos ao nosso dispor para seguirmos os nossos caminhos acompanhados de um farol pessoal. As emoções são saudáveis e devem ser vividas.

Mas, não é isso que nos ensinam ao crescermos, seja de forma directa ou indirecta, por palavra ou por exemplo, e assim aprendemos a temer e a fugir daquilo que existe para nos proteger e guiar. Aprendemos a ignorar a "sensação na barriga", a raiva, a tristeza, até mesmo a alegria. Todas as emoções seriam sinal de fraqueza ou descontrolo. Mas porquê? Não é quando o bebé chora que percebemos que algo se passa? Não é a única forma de comunicação que ele tem, as emoções? O que muda quando crescemos? Porque é que não podemos também comunicar com as nossas emoções e vivê-las? Sentimos frio, calor, fome, mas também medo, dor, angústia, alegria, tristeza e muitas outras, porque não expressá-las?

Se nos explicassem para o que realmente serve a dor talvez o mundo fosse um pouco melhor. Se nos mostrassem que não é preciso temê-la ou escondê-la talvez fossemos seres humanos mais felizes, mais capazes, mais humanos. Às vezes basta dizer onde nos dói para a dor passar. E se ao longo do caminho fomos domesticados estamos sempre a tempo de resgatar esses instintos em nós, com calma, carinho e paciência, como um animal selvagem posto em cativeiro e que finalmente é devolvido ao seu habitat natural. 

Tudo é possível. Basta dizer onde dói.




27 de maio de 2016

O Poder da Integridade


No silêncio tenho vindo a pensar na integridade e no que ela significa. Dei-me conta de que não sei definir integridade e por isso decidi procurar o seu significado no dicionário:

Íntegro:

1. Inteiro, completo.
2. Que tem comportamento exemplar. = Honrado, recto

Integridade:

1. Qualidade de íntegro.
2. Carácter daquilo a que não falta nenhuma das suas partes.
3. Estado de são. de inalterável.
4.[figurado] Rectidão, honradez; pureza intacta.

Curiosamente, uma das definições vai de encontro àquilo em que eu tenho reflectido, inteiro, completo, carácter daquilo a que não falta nenhuma das suas partes.

Acho maravilhoso como uma simples palavra pode abarcar em si tanto conhecimento, tanta sabedoria, às vezes basta ir ao dicionário e ver o que ela significa. Neste caso em particular eu confirmei as minhas reflexões, como é que algo que está partido e dividido pode ser íntegro? Como é que se pode presumir a integridade física, mental, emocional e espiritual se as partes não estiverem onde se encontra o seu Todo? Como querer viajar por outras paragens se uma parte se encontra noutro tempo, noutro sítio, noutra parada? Como se defendem conceitos que existem dependentes de integridade se ela não existe em nós? E como é que essa mesma integridade se manifesta nas mais diversas esferas do nosso Ser?
ín·te·gro

"íntegro", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/%C3%ADntegro [consultado em 17-05-2016].
in·te·gri·da·de
(latim integritas, -atis)

substantivo feminino
1. Qualidade de íntegro.

2. Carácter daquilo a que não falta nenhuma das suas partes.

3. Estado de são, de inalterável.

4. [Figurado]  Rectidão, honradez; pureza intacta.

"integridade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/integridade [consultado em 17-05-2016].
in·te·gri·da·de
(latim integritas, -atis)

substantivo feminino
1. Qualidade de íntegro.

2. Carácter daquilo a que não falta nenhuma das suas partes.

3. Estado de são, de inalterável.

4. [Figurado]  Rectidão, honradez; pureza intacta.

"integridade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/integridade [consultado em 17-05-2016].

20 de maio de 2016

O silêncio das coisas partidas

Tinha cá por casa algumas coisas que precisavam ser reparadas, pequenas coisas, nada de mais. Apesar de me parecerem coisas sem grande importância não conseguia deixar de me sentir incomodada. A asa de uma chávena que adoro. O puxador da porta. Um íman de frigorífico que caiu e se partiu em dois. Os dias transformaram-se em semanas, as semanas em meses e eu sem os consertar, sem os colar e eles ali, todos os dias a incomodarem-me com o silêncio das coisas partidas. 

Muitas vezes tive tempo e oportunidade para me dedicar a estes objectos mas a minha atenção fugia sempre para outra coisa que talvez nem estivesse partida, apenas outra coisa.

Há duas semanas cheguei ao meu limite e antes sequer de entrar verdadeiramente em casa peguei na chave de fendas e arranjei o puxador que todos os dias se soltava da porta. Respirei. De dentro de mim surgiu um pequeno e estranho prazer que não consigo bem definir e a partir desse dia comecei a pensar nas outras coisas que ainda tinha para consertar. Nesse momento deu-se um fenómeno estranho mas que bate certo com a pessoa que sou, continuei a adiar o conserto dos ditos objectos mas não como antes, não para evitar qualquer coisa que eu nem sabia bem o que era, agora adiava para prolongar o prazer do momento da reparação. Certo. Sou assim, complexa.

Ontem porém, estava sentada no sofá a vegetar no meio dos meus pensamentos e levantei-me com um salto, peguei no íman, colei-o, peguei na chávena, colei-a e outra vez aquele pequeno e indizível prazer. Fechei os olhos e aproveitei o meu momento de glória. E que momento de glória.

Podia agora explicar-vos o paralelo que fiz enquanto estava com os olhos fechados e em silêncio. Podia agora falar das pequenas coisas partidas em nós, à nossa volta e cá dentro. Podia falar de como essas pequenas coisas se tornam por vezes grandes e de como as grandes se tornam pequenas. Podia dizer que pequeno não significa insignificante ou sem importância. Podia, podia, mas não vou fazê-lo. Vou deixar-vos apenas com o silêncio das coisas partidas. Quem sabe o que poderão fazer com ele.




16 de maio de 2016

Conversas de vácuo

Hoje apetece-me falar de pessoas especiais. Talvez porque não fale delas as vezes suficientes, talvez porque as ache raras, talvez porque não lhes dê o valor que elas merecem. Hoje apetece-me falar de pessoas que enriquecem a minha vida e que acrescentam valor ao meu. Não, não me preenchem, acrescentam-me. 

Hoje quero falar daquelas conversas que nos abrem as portas da compreensão, quase como se entrássemos num vácuo onde tudo fica claro e num só instante podemos ver o Presente, o Passado e o Futuro, tudo num só instante. Hoje só quero dizer que sou grata por conversas de vácuo.

Hoje quero falar da simplicidade das mensagens e dos mensageiros e do mundo que esses mensageiros trazem nos olhos, basta olharmos com atenção, basta demorar mais de cinco minutos.

Hoje quero falar daqueles que vivem de acordo com o que falam. Geralmente não falam, vivem. Geralmente não procuram, vivem. 

Hoje quero falar daqueles que têm a magia de nos prender ao chão com o seu Amor e a sua Sabedoria. 

Hoje quero falar daqueles que exercitam a paciência e se aceitam como humanos. Que nos aceitam como humanos. Que não pedem mais do que isso. 

Hoje só quero dizer que sou grata.

Infinitamente grata.

A vida é realmente mágica.

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13 de maio de 2016

Não, não é amor!

Ando há uns dias com este título na cabeça, viro, reviro, hesito, não me apetece falar. Mas a frase não me sai da cabeça e volta vezes e vezes sem conta, não, não é amor.
Quando eu era adolescente recordo que o meu conceito de amor era bem quadrado e o mais engraçado é que esse conceito da adolescência não era o mesmo que eu tinha em criança, estranho não é? Mas não tanto se nos debruçarmos melhor sobre o assunto com olhos de ver, com coração acima de tudo e sem medo.
O meu primeiro relacionamento marcante com alguém do sexo oposto deu-se precisamente nessa idade, na pré-adolescência se é que lhe posso chamar assim. Recordo com muita clareza as minhas barreiras naturais que outra pessoa poderá chamar de resistências mas que eu continuarei a chamar de barreiras naturais, porque hoje, mais consciente, percebo que a minha menina era muito mais sábia do que eu pensava. Recordo por exemplo a minha relutância/vergonha de usar uma aliança de compromisso, sentia-me estranha e até ridícula, cheguei mesmo a usá-la só quando estava com essa pessoa e todo o tempo que não estávamos juntos eu tirava-a. Conscientemente eu sabia que não tinha idade para aquilo e inconscientemente eu sabia que aquilo era uma coleira, uma forma de me ter marcada, a galinha com a anilha. Passado algum tempo porém ignorei toda esta intuição e o que a princípio me parecia estranho acabou por se entranhar de tal forma que mesmo depois deste relacionamento ter terminado e tudo o que com isso veio, eu insistia em usar a dita aliança de comprometida. A formatação foi pois bastante completa e bem feita, com a minha autorização e consentimento. Recordo também "pequenas" manipulações que me faziam sentir mal por ser livre, mal por querer estar com a minha família, mal por chegar atrasada, mal por falar com um amigo que é apenas e só isso. Um dos episódios que mais me marcou foi de um dia em que tive um "furo" na escola e toda a minha turma se juntou para conversar durante essa hora, quando a campainha tocou eu enchi-me de terror porque eu estava a conversar com um rapaz de quem esta pessoa tinha muitos ciúmes. A minha primeira reacção foi de cortar a conversa e ir para outro sítio. Tinha medo. Mas depois resisti e pensei que não havia mal nenhum, porque realmente não havia, e continuei a conversa que estava a ter. Infelizmente a reacção do meu namorado da altura foi chegar por trás do meu amigo e bater-lhe sem sequer lhe dizer uma palavra. Fui para casa nesse dia, não conseguia encarar ninguém da minha turma e apesar deste sinal claro e inequívoco eu decidi continuar.
Isto tudo para vos dizer que não, não é amor, tudo aquilo que nos ensinaram, tudo aquilo que nos foi passado. Não é amor a manipulação que nos impede de sermos nós mesmas. Não é amor dizerem-nos que nos escondem algo para sermos poupadas. Não é amor criticarem a roupa que usamos. Não é amor aquele aperto no braço e a pergunta que se lhe segue "onde vais assim vestida?". Não é amor o fazerem-nos sentir como propriedade. Não é amor fazerem-nos mal e depois dizerem que é amor. Não, não é amor! É tudo um jogo de poder! É tudo uma questão de insegurança mascarada de força. Minhas queridas, não é amor! E enquanto contarem essa preciosa mentira a vocês mesmas o ciclo vai seguir e perdurar e o que ao princípio era estranho depois entranha-se e vocês pensam que é assim mesmo, mas não é. A possessividade, a agressividade, seja ela verbal ou física, o rebaixar, tudo isso, não é amor e não é culpa vossa.
E hoje temo que exista uma violência bem mais perigosa que infelizmente não deixa nódoas negras, uma violência que não dá para apontar o sítio onde magoa mas que talvez deixe mais marcas que uma perna partida. As palavras tornaram-se o palco desta violência, são dissimuladas, disfarçadas de desculpas e doçuras, mas não se iludam, elas não deixam de ser o que são, violências contra quem vocês são, pequenas espadas apontadas à vossa força e à vossa resistência que aos poucos vocês vão deixando de lado e cedendo às investidas perniciosas de quem vos diz amar. E um dia acordam, vão ao espelho e a pessoa que lá está não são vocês mas uma sombra apenas, completamente sugada e quase sem vida e por trás surge alguém a dizer "Amo-te"... mas não é amor... é falta dele, por ti mesma(o).

6 de maio de 2016

Bosque de Boulogne

5 de Maio é feriado em Paris, festeja-se o dia da Ascenção e como o Sol decidiu agraciar-nos com a sua presença decidimos partir à exploração de mais um bocadinho da cidade. Desta vez escolhemos o Bosque de Boulogne e assim ainda podíamos "piquenicar", porque não? Uma das coisas que mais me surpreendeu quando aqui cheguei foi a forma como os parisienses de gema ou não, aproveitam os espaços verdes que têm à disposição. Nós, os portugueses do litoral pelo menos, temos a praia, usufruímos dela o mais que podemos, mas os parques, os espaços verdes, acabam por ser deixados para os velhotes jogarem cartas ou ficarem ao abandono e se alguém pensar em ir comer ou apanhar Sol na relva é parolo com toda a certeza. Pois aqui é precisamente o contrário, os espaços verdes são um luxo e são usados e abusados em cada bocadinho livre que estas pessoas tenham, seja para comer um sanduíche na hora de almoço, seja para apanhar Sol em biquini ou mesmo cuecas e soutien. Estão a imaginar isto no Jardim d'Arca d'Água? Na Cordoaria? AHAHAHAHAHA certo...

O bosque de Boulogne é gigantesco! 846ha que eu espero conquistar por partes, desta vez ficamos pelos lagos, são dois, o inferior e o superior, no inferior tem ainda uma pequena ilha que é apenas acessível por barco. A travessia de barco foi bastante interessante uma vez que quando entrei no barco eles decidiram que não ia entrar mais ninguém então fui sozinha o que se traduziu em cerca de 30 minutos de espera que eu optimizei a arranjar um esquema para não pagarmos os bilhetes do barco, sou portuguesa, está-me no sangue.

Quando chegamos à ilha trocam-se as toalhas de piquenique e as sandochas da outra margem pelo baton vermelho, os saltos altos, os sapatos de vela e a calças com a dobrinha, eu nem sei como é que eles chegaram ali, mar táxi (quem não sabe o que é um mar táxi?)?

Depois de dar 5€ por uma água com gás num copo de plástico decidimos dar por encerrada a aventura para grande pena minha, não consegui explorar a ilha e uma casinha toda catita que tinha por lá. Da próxima vez!

Métro:
  • Linha 10 - estação Porte d'Auteuil
O hipódromo fica situado no bosque de Boulogne e nos dias em que não há corridas pode ser visitado e fica a caminho dos lagos. Ah!!! Gratuito!!! 

Hipódromo

Lago Superior

Lago Superior

Lago Inferior

Ilha

Lago Superior