18 de fevereiro de 2016

Eu não sou feminista,Eu Sou Mulher

Em menina havia coisas que me incomodavam profundamente, coisas que na altura eu não sabia a que categoria de acontecimentos pertenciam mas que me incomodavam. Incomodavam-me ao ponto de beirar a revolta e recordo que uma das etiquetas que foi atribuída em criança foi a de "respondona". Ao crescer fui sentindo muitas outras coisas que me incomodavam e me revoltavam, outras etiquetas foram surgindo, pessoas foram se afastando de mim, outras foram chegando. Qualquer uma dessas etiquetas remetia sempre para o facto de eu ou não estar satisfeita com alguma coisa ou simplesmente por pensar de maneira diferente do que seria esperado de uma mulher. Fui tendo pequenos sinais a respeito disto, fosse pela minha forma de vestir, fosse pela minha forma de estar e sorrir, fosse simplesmente pelas coisas que eu partilhava com toda a naturalidade. Os rótulos foram se sucendendo, um atrás do outro. Confesso que momentos houve em que eu mesma fiquei confusa, muito confusa com a minha própria identidade e com a autenticidade dos rótulos que me eram atribuídos. Tive momentos que chorei as injustiças e tive momentos que me chorei com pena de mim mesma por ser todos aqueles rótulos que todas aquelas pessoas me deram, afinal, só podia ser verdade não é?

Hoje eu sei que não é assim e sei que todos os que me deram rótulos estavam errados e que no fundo bem no fundo eles não sabem quem são e muito menos o que eu Sou e Quem eu Sou e que todos aqueles rótulos provinham e provêem de algo que lhes foi ensinado e transmitido, de algo com que também eles e elas cresceram portanto é normal que não soubessem fazer melhor, para quê questionar? Para quê pensar de outra forma senão existe outra forma?

Por isso hoje me sento aqui em frente do meu computador perfeitamente confortável quando vos digo, eu não sou feminista, eu Sou Mulher e percebo também que o que eu sou, Mulher, foi a razão de todas as vezes em que eu me sentia incomodada com todos os rótulos e com os olhares de esguelha. É por ser Mulher que me sinto incomodada quando ouço "mulheres" fazerem comentários sobre outras mulheres que nunca saíriam da boca de uma Mulher, "mulheres" que foram ensinadas a dizer coisas que um "homem" diz, "mulheres" a quem lhes foi dado quando nasceram um pénis invisível e que pesa mais do que o útero que carregam. Eu incomodava-me e sentia-me estranha porque eu Sou uma Mulher que gosta de Mulheres e que fica triste quando "mulheres" se tratam como homens e se julgam como homens.

Por isso não, eu não sou feminista e o simples facto de existir a necessidade desta nomenclatura é um sinal inequívoco de que algo está mal, algo está profundamente mal e podre dentro de nós e a nossa sociedade é apenas e somente um reflexo disso mesmo. Eu Sou Mulher e assumo-me como tal e com tudo aquilo a que tenho direito e com todos os meus deveres também e o ser Mulher vai muito além da igualdade de salários, e posições numa empresa, isto é tão e somente apenas um pequeno reflexo de algo muito maior e bem mais problemático. É tão mais profundo do que isto. E eu desejo do fundo do meu coração que todas as mulheres comecem a sentir em si esta verdade e se assumam como aquilo que são, Mulheres.

Imagem: Nicholas Roerich

2 comentários:

Margarida Marmelo disse...

Gostei de te ler Sonia! :-)

Sónia Alexandra disse...

Grata Margarida!