10 de novembro de 2015

Para vocês com Amor


Fala-me de ti, diz-me onde te dói, não precisas dizer porquê basta que me digas onde e do resto trato eu, não te preocupes. Então, vais dizer? Ou vais continuar a calar? Fala-me, diz-me, grita-me! Abre a tua boca até às goelas e mostra-me onde!
Fala-me avó da neta que te abandonou, fala-me mãe do pai que te traiu, fala-me filha da mãe que te odiou. Conta-me da tua dor de parir e da dor de não o fazer. Mostra-me em que sítio te queimou o veneno da irmã que te inveja. Faz-me saber do filho que te sugou. Canta-me a lágrima que te secou. Explica-me o que foi ser filha da mãe e filha da puta. Deixa que te toque onde te dói, deixa que o meu dedo podre afague a tua ferida. Deixa que o meu colo carregue essa solidão milenar, essa insegurança ancestral, deixa que os meus dedos desonrolem a tua língua e libertem todas as pragas que calaste. Deixa que o meu beijo acorde o fogo no teu coração.
Filha, irmã, tia, sobrinha, mãe, avó, amiga, deixa-me ser em ti e tu serás em mim e aos poucos, juntas, mão na mão, ferida com ferida, vamos entrançar a dor que carregas e dar-lhe uma cor, uma forma e nessa dor vamos navegar juntas e resgatar cada onça de poder perdido, esquecido, fugido e vamos colá-lo numa linda manta de retalhos onde as tuas irmãs, filhas e netas se vão sentar enquanto tu lhes mostras como se navegam essas águas que te negaram por tanto, tanto tempo. Diz-me onde te dói.

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