Todos os dias quando regresso a casa vinda do trabalho, passo por um
daqueles restaurantes a que já me acostumei a ver aqui em Paris,
esplanadas em pleno Inverno, cheias de gente, com aquecedores que fazem
inveja a qualquer aquecimento que qualquer um de nós posso ter em
Portugal. E é num destes restaurantes que pelo menos uma vez por semana
vejo um casal sentado na esplanada por volta das sete e meia a beber uma
taça de champanhe. Parece-me que cada um deles deve ter os seus 50
anos, ele tem sempre um chapéu, muito habitual entre os franceses e um
casacão que lhes dá cá um charme! Ela é morena e a idade sente-se na
cara... mas, não é uma idade pesada, carregada de dores, aquela idade
que talvez estejamos mais acostumados a ver em tantas das mulheres que
passam pela nossa vida. Esta tem uma idade "madura" na cara. Uma idade
que se deseja só de olhar para ela. E é bonita sabem? A idade que ela me
mostra. Eu "gosto-a" bastante e sempre que a/os vejo, imagino como é que
a idade a tratou tão bem, como é que ela conseguiu aquelas cores,
aquelas rugas específicas, aquela flacidez que a torna ainda mais
bonita. Será que foi aquele homem sentado ao lado dela a beber
champanhe? Ou talvez todo um conjunto de homens de chapéu que a levaram
durante toda a sua vida a beber um copo de champanhe uma ou duas vezes
por semana.
Observo-os ali, sentados ao frio, ele com o seu chapéu, ela com o
seu cabelo castanho e o seu casaco de peles e imagino de que se fazem as
suas conversas. De trabalho? Filhos? Será que têm filhos? Aquela mulher
não me parece tocada por filhos... e no entanto, tudo nela me mostra
uma mãe. Amor? Será que falam de amor? Quem é que se senta numa
esplanada a beber uma flute de champanhe se não for para falar de amor? E
se não falam, tenho a certeza que o sentem, vê-se nas rugas dela e no
sorriso dele...
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