22 de agosto de 2014

Sabes o que vales?

Há dias tive uma conversa em que me falaram de uma pessoa que sabia exactamente o seu valor. Por saber exactamente aquilo que vale, essa mesma pessoa segue firme nas suas decisões e demais coisas que abalariam o comum dos mortais, a ela não lhe tocam.
Claro que isto me deixou a pensar e a interrogar-me sobre o meu próprio valor. Imaginei formas de o medir, de o colocar em garrafinhas dividido em quantidades iguais, 100ml de valor, 250ml? Quantas garrafas consigo?
O certo é que segundo a minha imaginação, alguém que sabe o seu exacto valor deve certamente ter um "core" feito de titânio, o vento vai, o vento vem e ela continua lá, inabalável e sem ferrugem. Fiquei curiosa. Essa história de conhecer as fronteiras do próprio alcance deixou-me curiosa. Muito curiosa.




22 de julho de 2014

Saudades de Portugal

Desde que cheguei a Paris, faz já 8 meses, a pergunta mais comum é "tens saudades?". Confesso que ainda não tinha sentido verdadeiramente saudades. É tudo novidade, é tudo descoberta, todas as semanas é possível passear por um sítio que ainda não conhecemos, em casa só falamos português, só comemos português, portanto, não, para mim não havia lugar para saudades. Até ao momento em que fui a Portugal de férias e enquanto sobrevoava Gaia e vi o rio, comecei a chorar. Se me perguntarem o que pensei ou se posso até explicar o porquê de começar a chorar assim, também não sei. Foi como se de repente alguém tivesse tirado a tampa de uma coca-cola que inadvertidamente havia sido agitada. Acho que a minha tampa saiu quando o Douro apareceu. E o mais estranho disto tudo é que eu nem estava assim tão entusiasmada por ir a Portugal, sim, estava contente, mas não estava o meu contente "eufóricó-excitado". O avião aterrou e juro que me passou pela cabeça aquela imagem de filme em que eles se ajoelham e dão beijinho no chão. Certo, nojentinha como eu sou, afastei de imediato essa ideia, mas continuei com vontade de beijar Portugal.
Digo-vos que nunca me senti tão cansada como nestas férias. Desdobrei-me para fazer tudo o que eu quis, estar com todos que consegui e comer tudo que a minha barriga permitiu. Deitei-me às 5h e levantei-me às 8, fiz mil e uma coisas correndo entre elas, mas parava no entretanto. E tudo, mas tudo, girou em torno de comida. ahh e que falta me faziam as tostas mistas, as torradas, as meias de leite, os pastéis de chaves e as francesinhas. E agora que voltei percebi, como se manifestaram as minhas saudades de forma a que eu não fosse capaz de as identificar: falta de sal. Uma profunda, imensa e insolúvel falta de sal. Aqui tudo é doce, colorido, bem desenhado e bem cortado. Quadradinhos açucarados perfeitamente medidos e decorados. Tudo é simétrico e repleto de esquadrias. Infelizmente eu não sou uma moça de açúcar, sou uma rapariga de sal, muito sal. E esta insatisfação constante que não é saciada por mais queijo que coma é porque me falta um sal que aqui não se encontra. O sal dos pastéis de chaves acabados de fazer, com a sua massa folhada a escorrer gorduras que nos fazem tão bem ao coração, os rissóis que eu tanto gosto de comer depois de uma queijada, o sal das tostas mistas numa manhã de Verão antes da praia e seguidas do cigarro, o sal das francesinhas regadas a cerveja, o sal do mar que aqui é apenas uma recordação. Sim, tudo aqui é muito doce e a mim falta-me o sal.

18 de fevereiro de 2014

Paris e o Amor

Todos os dias quando regresso a casa vinda do trabalho, passo por um daqueles restaurantes a que já me acostumei a ver aqui em Paris, esplanadas em pleno Inverno, cheias de gente, com aquecedores que fazem inveja a qualquer aquecimento que qualquer um de nós posso ter em Portugal. E é num destes restaurantes que pelo menos uma vez por semana vejo um casal sentado na esplanada por volta das sete e meia a beber uma taça de champanhe. Parece-me que cada um deles deve ter os seus 50 anos, ele tem sempre um chapéu, muito habitual entre os franceses e um casacão que lhes dá cá um charme! Ela é morena e a idade sente-se na cara... mas, não é uma idade pesada, carregada de dores, aquela idade que talvez estejamos mais acostumados a ver em tantas das mulheres que passam pela nossa vida. Esta tem uma idade "madura" na cara. Uma idade que se deseja só de olhar para ela. E é bonita sabem? A idade que ela me mostra. Eu "gosto-a" bastante e sempre que a/os vejo, imagino como é que a idade a tratou tão bem, como é que ela conseguiu aquelas cores, aquelas rugas específicas, aquela flacidez que a torna ainda mais bonita. Será que foi aquele homem sentado ao lado dela a beber champanhe? Ou talvez todo um conjunto de homens de chapéu que a levaram durante toda a sua vida a beber um copo de champanhe uma ou duas vezes por semana.
Observo-os ali, sentados ao frio, ele com o seu chapéu, ela com o seu cabelo castanho e o seu casaco de peles e imagino de que se fazem as suas conversas. De trabalho? Filhos? Será que têm filhos? Aquela mulher não me parece tocada por filhos... e no entanto, tudo nela me mostra uma mãe. Amor? Será que falam de amor? Quem é que se senta numa esplanada a beber uma flute de champanhe se não for para falar de amor? E se não falam, tenho a certeza que o sentem, vê-se nas rugas dela e no sorriso dele...