Há músicas que me dão vontade de morrer. Não, não é um morrer dramático, triste, vazio e cheio de terror, é um morrer diferente, um morrer cheio de qualquer coisa que eu não te sei explicar muito bem mas a palavra que encontro e que mais se aproxima daquilo que quero exprimir é morrer. Há sim, músicas que me dão vontade de morrer como quando me deitava no chão da sala dos meus pais naquelas quentes noites de Verão, a tijoleira fria nas minhas costas quentes, o ar abafado a forçar a entrada pela janela, a Lua que me espreitava, a árvore que me guardava e na aparelhagem Smashing Pumpkins a matar-me doce e suavemente... e que bem me sabiam aquelas mortes, tão gordas, tão ricas, tão cheias, tão gordurosamente salgadas e depois aquele travo doce no final, ah matem-me, matem-me e deixem-me morrer, com os Pumpkins, Portishead ou o Reininho, deixem-me ir como naquelas noites quentes deitada no chão frio da sala da minha adolescência. E que a música me leve para um qualquer lugar entre um lugar e outro porque os verdadeiros lugares, aqueles que realmente importam estão sempre entre um lugar e outro, na soleira de uma porta, na beirada de uma janela, no interstício de um momento, de uma ideia, de algo que brota mas ainda não brotou, é aí, nesse sítio exacto que eu morro lenta e deliciosamente. E esta sensação de morrer é tão viva. Morre comigo. Anda passear nos lugares entre os lugares. Vamos passear.
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