20 de outubro de 2007

Silêncio




Quando chegas tudo se vai e o mundo fecha-se por instantes, consigo respirar. O ar torna-se leve e os meus ombros já não doem. Tudo é paz, tudo é uma luz que passa por uma porta aberta. A sala contrai-se e expande-se, torna-se viva. Respira comigo e acolhe-me no seu colo. Já não choro, apenas escuto este suave pulsar que me leva de novo ao dia em que não nasci, ao dia em que já era mas ainda não estava. Estendo os braços e consigo tocar-te e a luz fica ainda mais viva, mais quente e ainda mais serena.
Começo a voar como se estivesse num aquário, mas não me sinto presa, pelo contrário, giro sob o meu corpo e estico-o ao máximo. Estou a sorrir. Estou a voar. E a sala contrai-se e expande-se ainda mais. Mais espaço, quero mais espaço, estou a voar. As mãos aquecem e voo ainda melhor, mais ágil, menos esforço, mais flexibilidade. É tão simples, basta respirar.
Saio para a luz, olho para trás. Não estou triste. Vou voltar, mas por enquanto devo voar, rodopiar, planar. Não choro. Estou a voar sobre as árvores, sob o luar. E tudo é simples, matemático e terrivelmente lógico. Sou eu. O dragão... a águia... a coruja... o ganso... a voar, a voar.
Salvei o golfinho e a pantera amou-me. Tudo como é, tudo como se sente. Fiz um voo picado, sorrio mais uma vez. E a Terra vibra, e a Terra pulsa, tudo como é, tudo como se sente.

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