O
vento trouxe-me sussurros de um tempo em que te conheci. E como é
que se diz a essência de algo que não recordas? Não dizes, sentes,
mas gostavas de dizer mesmo assim. E na busca de palavras fechei os
olhos e procurei em mim todas as que me pudessem chamar à
memória algo que eu vivi mas não recordo. Nada surgiu, apenas
lágrimas. E eu aceitei-as e deixei-as correr livres pelo meu rosto
seco, tão seco, eu já não sabia como ele havia secado. Fiquei
assim sem saber o que é o tempo e como ele se move. Parei. Creio até
ter parado o próprio tempo porque a minha vontade é grande e tem o
poder de parar o tempo quando eu quero. Hoje eu quis. Precisei deste
intervalo, então parou-se o tempo e eu pude sentir. E eu senti o
sopro de vida em mim, o sopro de mim em mim. Eu senti a música
desenhar-se no meu corpo e as imagens que ela traduz na minha cabeça.
Eu senti a luz surgir e bater num lugar cheio de bafio. E eu percebi,
tu és eu, eu sou tu. E as lágrimas cessaram.
Sem comentários:
Enviar um comentário