16 de março de 2016

Carta que escrevi para ti a pensar em mim

O vento trouxe-me sussurros de um tempo em que te conheci. E como é que se diz a essência de algo que não recordas? Não dizes, sentes, mas gostavas de dizer mesmo assim. E na busca de palavras fechei os olhos e procurei em mim todas as que me pudessem chamar à memória algo que eu vivi mas não recordo. Nada surgiu, apenas lágrimas. E eu aceitei-as e deixei-as correr livres pelo meu rosto seco, tão seco, eu já não sabia como ele havia secado. Fiquei assim sem saber o que é o tempo e como ele se move. Parei. Creio até ter parado o próprio tempo porque a minha vontade é grande e tem o poder de parar o tempo quando eu quero. Hoje eu quis. Precisei deste intervalo, então parou-se o tempo e eu pude sentir. E eu senti o sopro de vida em mim, o sopro de mim em mim. Eu senti a música desenhar-se no meu corpo e as imagens que ela traduz na minha cabeça. Eu senti a luz surgir e bater num lugar cheio de bafio. E eu percebi, tu és eu, eu sou tu. E as lágrimas cessaram.


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