22 de julho de 2014

Saudades de Portugal

Desde que cheguei a Paris, faz já 8 meses, a pergunta mais comum é "tens saudades?". Confesso que ainda não tinha sentido verdadeiramente saudades. É tudo novidade, é tudo descoberta, todas as semanas é possível passear por um sítio que ainda não conhecemos, em casa só falamos português, só comemos português, portanto, não, para mim não havia lugar para saudades. Até ao momento em que fui a Portugal de férias e enquanto sobrevoava Gaia e vi o rio, comecei a chorar. Se me perguntarem o que pensei ou se posso até explicar o porquê de começar a chorar assim, também não sei. Foi como se de repente alguém tivesse tirado a tampa de uma coca-cola que inadvertidamente havia sido agitada. Acho que a minha tampa saiu quando o Douro apareceu. E o mais estranho disto tudo é que eu nem estava assim tão entusiasmada por ir a Portugal, sim, estava contente, mas não estava o meu contente "eufóricó-excitado". O avião aterrou e juro que me passou pela cabeça aquela imagem de filme em que eles se ajoelham e dão beijinho no chão. Certo, nojentinha como eu sou, afastei de imediato essa ideia, mas continuei com vontade de beijar Portugal.
Digo-vos que nunca me senti tão cansada como nestas férias. Desdobrei-me para fazer tudo o que eu quis, estar com todos que consegui e comer tudo que a minha barriga permitiu. Deitei-me às 5h e levantei-me às 8, fiz mil e uma coisas correndo entre elas, mas parava no entretanto. E tudo, mas tudo, girou em torno de comida. ahh e que falta me faziam as tostas mistas, as torradas, as meias de leite, os pastéis de chaves e as francesinhas. E agora que voltei percebi, como se manifestaram as minhas saudades de forma a que eu não fosse capaz de as identificar: falta de sal. Uma profunda, imensa e insolúvel falta de sal. Aqui tudo é doce, colorido, bem desenhado e bem cortado. Quadradinhos açucarados perfeitamente medidos e decorados. Tudo é simétrico e repleto de esquadrias. Infelizmente eu não sou uma moça de açúcar, sou uma rapariga de sal, muito sal. E esta insatisfação constante que não é saciada por mais queijo que coma é porque me falta um sal que aqui não se encontra. O sal dos pastéis de chaves acabados de fazer, com a sua massa folhada a escorrer gorduras que nos fazem tão bem ao coração, os rissóis que eu tanto gosto de comer depois de uma queijada, o sal das tostas mistas numa manhã de Verão antes da praia e seguidas do cigarro, o sal das francesinhas regadas a cerveja, o sal do mar que aqui é apenas uma recordação. Sim, tudo aqui é muito doce e a mim falta-me o sal.